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Canteiro, galeria Murilo Castro

Olá pessoal!


Próximo sábado às 11:00 será a inauguração da exposição Canteiro na galeria Murilo Castro, em Belo Horizonte. Nessa exposição eu participo como curador e artista, apresentando um conjunto de pinturas da série Noite. Segue abaixo o texto que escrevi (com a ajuda da mão de ouro da Cissa). Canteiro O canteiro é um lugar onde os afetos são cuidados. No constante trabalho de manutenção da vida -, vida que começa frágil e minúscula, mas que vai se espalhando com força incessante para fora e para dentro da terra em contornos de raízes e caules. O canteiro é um território que pode gestar alimentos, que pode abrigar flores que cobrem os tons terrosos e esverdeados das folhas e troncos. Espaço entre o tropicaos da natureza e o impulso humano de tentar domar sua própria matéria prima. O canteiro é o processo criativo, porção de terra para o laboro artístico de originar poéticas que se desenvolvem ao longo do tempo e também do fazer em si disciplinado. Apesar de reconhecer o insight como gatilho comum no mundo da criatividade, a minha experiência como artista e professor me faz pensar na importância da tarefa diária para se fazer um artista e sua obra. No canteiro é preciso dedicação de sol a sol. Na exposição Canteiro apresentamos um conjunto de artistas de diferentes gerações que investigam o mundo vegetal de forma bem direta, assumindo uma certa tautologia, no sentido de que não estamos falando apenas do canteiro como metáfora do processo poético dos artistas, mas também de trabalhos que assumem uma relação direta com os personagens principais: as plantas. Além disso é fácil perceber que também foi feita uma escolha por artistas que priorizam o fazer manual, seja através de processos mais clássicos como os da pintura a óleo ou partindo para experimentações com materiais menos ortodoxos. A manualidade está em coreografia com os gestos de regar, podar, replantar e todos os movimentos das mãos que os canteiros exigem.  Em suas obras Camille Kachani explora o brotar de plantas inesperadas, que surgem onde dá e onde não dá, misturando materiais diferentes para criar esculturas que parecem estar vivas. Lucas Dupin explora, assim como Kachani, esse brotar das plantas em locais impensados, mas, em seu caso, as plantas surgem nos livros em forma de pintura. Também são ocasionais as plantas que brotam nos trabalhos de Mauro Piva, artista que apresenta aquarelas de plantas nas obras de Caravaggio, como lembrete de um canteiro brotando na história da arte. Victor Mizael explora a delicadeza do seu traço em plantas e flores que parecem querer voar como pássaros, usando suportes que ressaltam essa intenção de voo. A leveza também é importante no trabalho de Lilian Maus, que faz imagens de um mundo submerso, com plantas que parecem balançar com as correntes marítimas. Cela Luz, apresenta também pinturas que parecem vindas de um universo submarino, e apesar das folhas apresentarem leveza em suas pinturas, existe uma “carne pictórica” que se contrapõe a esse movimento. Pedro Varela apresenta trabalhos da série Noite, nas quais plantas psicodélicas surgem da escuridão com cores e formas de um trópico imaginário. Assim como Pedro, Sergio Allevato traz uma pintura noturna que revela plantas que surgem em cores vibrantes, mas em seus trabalhos a vegetação tem um aspecto quase que de desenho animado. Também temos aqui Lourdes Barreto que explora um universo com plantas que parecem bichos ou animais de outro mundo, feitos com cores vibrantes numa pintura que explora aspectos gráficos como linhas e áreas de cor.

 

Renata Laguardia cria paisagens que mostram um canteiro-mãe, uma terra fértil e acolhedora para plantas que nascem numa busca frenética pela vida, traduzida em pinceladas fluidas e um colorido sofisticado. Maria Gabriela também está interessada em falar sobre a fertilidade. Em seus trabalhos a artista cria uma flora intimamente ligada ao humano, de modo que suas folhas e plantas parecem ganhar carne que parece pulsar com suas pinceladas. Vitória Taborda cria trabalhos que mostram jardins geométricos feitos com folhas coletadas de seu próprio jardim, explorando sua própria casa como matéria e assunto para suas obras. Já a artista Eliane Fraulob se inspira na vegetação de sua terra natal, Campo Grande, em formas elegantes que dialogam com uma visualidade urbana traduzida por grafismos e gestos que lembram uma escrita. Juliana Gontijo parte das interações com o ambiente, mas também com seus sonhos, para pintar florestas que beiram a abstração. As memórias desse lugar afetivo também são referências para Manu Gomez, que explora as plantas que fazem parte da sua vida e de familiares, mesclando com as grades que apresentam ornamentos herdados pelos povos escravizados.

Canteiro, que apresentamos aqui na Galeria Murilo Castro, é então um lugar coletivo ocupado por   diferentes subjetividades que se comunicam e tornam elementos aparentemente tão triviais como as plantas em protagonistas. É impossível não tirar desse reposicionamento um lembrete também da importância de nos colocarmos mais harmônicos em relação a essa natureza da qual viemos, coisa ainda mais urgente em tempos de crise climática.

 



 

 

 

 

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